30 junho 2017

A dupla moral

Observamos uma convivência controversa de uma dupla moral: a moral da integridade (oficial) e a moral do oportunismo (oficiosa), onde os agentes e organizações ora aceitam ora se revoltam com as ações oportunistas.
Dentre as influências históricas no Brasil está o sistema de colonização que foi baseado no sistema de exploração realizado através do enriquecimento rápido e fácil, diferentemente da colonização de povoamento realizada pelos europeus que haviam fugido de seus países devido perseguições religiosos e política. Esse sistema de exploração acabou por trazer a formação das grandes propriedades rurais - os latifúndios - com uma produção de monocultura para exportação, além da existência do trabalho escravo ou com outras formas de servidão, assim como a formação de uma sociedade aristocrática, patriarcal, oligárquica, autoritária e discriminatória, incluindo aí a questão do racismo. Tudo isso foi base para o patrimonialismo, com a tomada do bem público pelo privado e do dualismo social, numa separação entre os que “podem” ou “não-podem” a depender do conhecimento e das relações sociais de poder.
As bases da relação entre a Justiça e o Estado também comporta tradições que alteram o cumprimento das normas altruístas da moral oficial da integridade e fortalecem a moral do oportunismo, dentre elas: o abismo entre o país formal e o país real; o patrimonialismo; o populismo; os corporativismos empresariais, burocráticos e sindicais; o clientelismo e o coronelismo; o apadrinhamento e a falta de impessoalidade cidadã.
A partir da chamada “Revolução Digital” está a formação de novos paradigmas como o redesenho da organização de trabalho, novas estratégias empresariais baseadas na globalização e mudanças nos padrões culturais mundiais. Acredita-se que esses aspectos aumentam a competitividade global, aumentam a capacidade de organização bem como aumentam também a capacidade de questionamento da sociedade civil.
De toda forma, a conduta das pessoas pode até ir seguindo certos parâmetros de escolhas, mas naquele momento da tomada de decisão onde o caminho escolhido pode trazer um grande benefício imediato para o indivíduo, então é neste momento que muitas pessoas estão dispostas a ir de encontro aos seus princípios somente pensando em seu benefício próprio. Muitas questões mesmo consideradas ilegais são de certa forma aceitas pela sociedade e praticadas pelos indivíduos e organizações permeadas pela composição dessa dupla moral não exclusiva do Brasil.


Por Simone Lima baseado em Sour (2003): Ética Empresarial.