04 outubro 2020

Vou deixar registrado por aqui já que em muitas partes/frases me identifico/reviso/repenso. É muita poesia e reflexão numa música só...

Foto: Praia de enseada dos Corais - PE (by simone MS)


Com o cheiro doce da arruda Penso em buda, calmo 
Tenso, busco uma ajuda 
Às vezes me vem um salmo 
Tira a visão que iluda, é tipo um oftalmo 
E eu, que vejo além de um palmo 
Por mim, tu, Ubuntu, algo almo 
Se for pra crer no terreno 
Só no que nóis tá vendo memo 
Resumo do plano é baixo, pequeno 
Mundano, sujo, inferno e veneno 
Frio, inverno e sereno 
Repressão e regressão 
É um luxo ter calma, a vida escalda 
Tento ler almas pra além de pressão 
Nações em declive na mão desse Barrabás 
Onde o milagre jaz 
Só prova a urgência de livros 
Perante o estrago que um sabre faz 
Imersos em dívidas ávidas 
Sem noção do que são dádivas 
No tempo onde a única que ainda corre livre aqui são nossas lágrimas 
E eu voltei pra matar, tipo infarto 
Depois fazer renascer, estilo um parto 
Eu me refaço, farto, descarto 
De pé no chão, homem comum 
Se a bênção vem a mim, reparto 
Invado cela, sala, quarto 
Rodei o globo, hoje tô certo de que 
Todo mundo é um 

Tudo, tudo, tudo, tudo que nóis tem é nóis (...) 

Cale o cansaço, refaça o laço 
Ofereça um abraço quente 
A música é só uma semente 
Um sorriso ainda é a única língua que todos entende 
Cale o cansaço, refaça o laço 
Ofereça um abraço quente 
A música é só uma semente 
Um sorriso ainda é a única língua que todos entende 
(Tio, gente é pra ser gentil) 

Tipo um girassol, meu olho busca o Sol 
Mano, crer que o ódio é a solução 
É ser sommelier de anzol 
Barco à deriva, sem farol 
Nem sinal de aurora boreal 
Minha voz corta a noite igual um rouxinol 
Meu foco de pôr o amor no hall 

Tudo que bate é tambor 
Todo tambor vem de lá 
Se o coração é o senhor, tudo é África 
Pus em prática 
Essa tática 
Matemática, falou? 
Enquanto a terra não for livre, eu também não sou 
Enquanto ancestral de quem tá por vir, eu vou 
E cantar com as menina enquanto germina o amor 
É empírico, meio onírico, tipo Kiriku, meu espírito 
Quer que eu tire de tu a dor 

É mil volts a descarga de tanta luta 
Adaga que rasga com força bruta 
Deus, por que a vida é tão amarga 
Na terra que é casa da cana de açúcar? 
E essa sobrecarga frustra o gueto 
Embarga e assusta ser suspeito 
Recarga que pus, é que igual Jesus 
No caminho da luz, todo mundo é preto 
Ame, pois 

Simbora que o tempo é rei 
Vive agora, não há depois 
Ser tempo da paz, como um cais que vigora nos maus lençóis 
É um-dois, um-dois, não julgue o playboy 
Como monge sois, fonte como sóis 
No front sem bois, forte como nós 
Lembra: A rua é nóis 

(Tudo, tudo, tudo, tudo que nóis tem é nóis) (...) 

Vejo a vida passar num instante 
Será tempo o bastante que tenho pra viver? 
Não sei, não posso saber 
Quem segura o dia de amanhã na mão? 
Não há quem possa acrescentar um milímetro a cada estação 
Então, será tudo em vão? Banal? Sem razão? 
Seria, sim, seria se não fosse o amor 
O amor cuida com carinho, respira o outro, cria o elo 
No vínculo de todas as cores, dizem que o amor é amarelo 
É certo na incerteza 
Socorro no meio da correnteza 
Tão simples como um grão de areia 
Confunde os poderosos a cada momento 
Amor é decisão, atitude 
Muito mais que sentimento 
É alento, fogueira, amanhecer 
O amor perdoa o imperdoável 
Resgata dignidade do ser 
É espiritual 
Tão carnal quanto angelical 
Não tá num dogma, ou preso numa religião 
É tão antigo quanto a eternidade 
Amor é espiritualidade 
Latente, potente, preto, poesia 
Um ombro na noite quieta 
Um colo para começar o dia 
Filho, abrace sua mãe 
Pai, perdoe seu filho 
Pais é reparação, fruto de paz 
Paz não se constrói com tiro 
Mas eu o miro, de frente, na minha fragilidade 
Eu não tenho a bolha da proteção 
Queria guardar tudo que amo 
Num castelo da minha imaginação 
Mas eu vejo a vida passar num instante 
Será tempo o bastante que tenho para viver? 
Eu não sei, eu não posso saber 
Mas enquanto houver amor 
Eu mudarei o curso da vida 
Farei um altar para comunhão 
Nele eu serei um com o mundo 
Até ver o ubuntu da emancipação 
Porque eu descobri o segredo que me faz humano 
Já não está mais perdido o elo 
O amor é o segredo de tudo 
E eu pinto tudo em amarelo 


Composição: Emicida/ Nave.

Nenhum comentário: